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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

NO CASO, não deixe de assistir.


E de repente você se dá conta que sua fiel escudeira caneta Bic atende pelo nome de esferográfica ao passo que sua inseparável Gilette prefere ser chamada de lâmina descartável. Seria cômico, se não fosse hilário.

No Caso é a visão bem humorada da mais nova publicitária do mercado carioca, Bebel Mesquita, onde alguns dos inúmeros produtos que ganharam o nome da própria marca desfilam dentro do cotidiano da sua personagem principal.

No caso, foi um imenso prazer participar desse projeto final do curso de Comunicação Social das Faculdades Integradas Hélio Alonso, onde também me formei.

Sem mais delongas, no caso, uma boa viagem!

Stephano Matolla.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

SER MINEIRO por Frei Betto

          Como todo mineiro é um pouco filósofo, há um mistério sobre o qual venho há anos especulando: o que é ser mineiro? Das reflexões e inflexões que extraí sobre a mineirice, muitas delas colhidas em filosóficas inscrições de rótulos de cachaça e quinquilharias de beira de estrada, eis as conclusões prévias e provisórias, sujeitas a chuvas e trovoadas, a que cheguei: Ser mineiro é dormir no chão para não cair da cama; usar sapatos de borracha para não dar esmola a cego; sorrir sem mostrar os dentes; tomar café ralo e esconder dinheiro grosso. É desconfiar até dos próprios pensamentos e não dar adeus para evitar abrir a mão. Mineiro pede emprestado para disfarçar a fartura. Se é rico, compra carro do ano e manda pôr meia sola em sapato usado. Mineiro vive pobre para morrer rico. Mineiro não fica louco; piora. Não é contra nem a favor; antes, pelo contrário. Mineiro fala de desgraça, doença e morte, e vive como quem se julga eterno. Chega na estação antes de colocarem os trilhos, para não perder o trem. Relógio de mineiro é enfeite. Pontual para chegar, o mineiro nunca tem hora para sair. A diferença entre o suíço e o mineiro é que o primeiro chega na hora. O mineiro chega antes. O bom mineiro não laça boi com embira; não dá rasteira em pé de vento; não pisa no escuro; não anda no molhado; não estica conversa com estranhos; só acredita em fumaça quando vê fogo; pede no açougue lombinho francês; só arrisca quando tem certeza e não troca um pássaro na mão por dois voando. Mineiro fala de política como se só ele entendesse do assunto; finge que acredita nas autoridades e conspira contra o governo; faz oposição sem granjear inimigos; gera filhos para virar compadre de político; foge da luz do sol por desconfiar da própria sombra; vive entre montanhas e sonha com o mar; viaja mundo para comer, do outro lado do planeta, um tutu de feijão com couve picada. Ser mineiro é venerar o passado como relíquia e falar do futuro como utopia; curtir saudades na aguardente e paixão em serenatas; dormir com um olho fechado e outro aberto; acender vela à santa e, por via das dúvidas não conjurar o diabo... Ser mineiro é fazer a pergunta já sabendo a resposta. É ter orgulho de ser humilde. É bancar a raposa e ainda insistir em tomar conta do galinheiro. Mineiro fica em cima do muro, não por imparcialidade, mas para poder ver melhor os dois lados. Cabeça-dura, o mineiro tem o coração mole. Acredita mais no fascínio da simpatia que no poder das idéias. Mineiro é isso, sô! Come as sílabas para não morrer pela boca. Fala manso para quebrar as resistências do interlocutor. Sonega letras para economizar palavras. De vossa mercê, passa pra vossemecê, vossência, vosmecê, você, ocê, cê e, num demora muito, usará só o acento circunflexo! Mineiro fala um dialeto que só outro mineiro entende, como aquele sujeito que, à beira do fogão de lenha, ensinava o outro a fazer café. Fervida a água, o aprendiz indagou: "Pó pô pó?" E o outro respondeu: "Pó pô, pô". Ser mineiro é saber criar bois, filhos e versos. É ir ao teatro, não para ver, mas para ser visto. É frequentar igreja para fingir piedade; rir antes de contar a piada e chorar com a desgraça alheia. Mineiro adora sala de visitas encerada e trancada, na esperança de retorno do rei. Avarento, não lê o jornal de uma só vez para não gastar as letras, e ainda guarda para o dia seguinte para poder ter notícias. Mineiro não lê, passa os olhos. Não fala ao telefone, dá recado. Praia de mineiro é barzinho, restaurante, balcão de armazém e cerca de curral.. Ali a língua rola solta na conversa mole, como se o tempo fosse eterno. Certo mesmo é que o momento é terno. Ser mineiro é ajoelhar na igreja para ver melhor as pernas da viúva, freqüentar batizado para pedir votos e ir a casamentos para exibir roupa nova. Mineiro vai a enterro para conferir quem continua vivo. Nunca sabe o que dizer aos parentes do falecido, mas fica horas na fila de cumprimentos para marcar presença. Leva lenço no bolso para o caso de ter de enxugar as lágrimas da família. Não manda flores porque desconfia que a flora não cumpre o trato e embolsa a grana. Ser mineiro é esbanjar tolerância para mendigar afeto. É proferir definições sem se definir. É contar casos sem falar de si próprio. Mineiro é feito pedra preciosa: visto sem atenção não revela o valor que tem. Mineiro é capaz de falar horas seguidas sem dizer nada. Esconde o jogo para ganhar a partida. Cumprimenta com mão mole para escapar do aperto e acredita que a fruta do vizinho é sempre mais gostosa. Mineiro age com a esperteza das serpentes, mas se veste com a simplicidade das pombas, e encobre suas contradições com o manto fictício da cordialidade. Mineiro é como angu, só fica no ponto quando se mexe com ele. Desconfiado, retira o dinheiro do banco, conta e torna a depositar. Ser mineiro é fazer cara feia e rir com o coração; andar com guarda-chuva para disfarçar a bengala; fumar cigarro de palha para espantar mosquitos; mascar fumo para amaciar a dentadura. Mineiro sabe quantas pernas tem a cobra; escova os dentes do alho; teme rasteira de pé de mesa; toma café ralo para enxergar o fundo da caneca e, por via das dúvidas, põe água e alpiste para o cuco. Ser mineiro é fingir que não sabe o que bem se conhece. Mineiro que não reza não se preza. Religioso, na crendice mineira há lugar para todos: O Cujo e a mula-sem-cabeça; assombrações e fantasmas; duendes e extra-terrestres. Pacífico, mineiro dá um boi para não entrar na briga e a boiada para continuar de fora. Mas, se pisam no calo do mineiro, ele conjura, te esconjura, jurado e juramentado no sangue de Tiradentes. "Minas Gerais é muitas", como disse Guimarães Rosa. É fogão de lenha e comida preparada na panela de pedra sabão; é turmalina e esmeralda; é tropa de burro e rios indolentes chorando a caminho do mar; é sino de igreja e tropeiros mourejando gado sob a tarde incendiada pelo hálito da noite. Minas é Mantiqueira e serrado, é Aleijadinho e Amílcar de Castro, é Drummond e Milton Nascimento, é pão de queijo e broa de fubá. Minas é uma mulher de ancas firmes e seios fartos, sensual nas curvas, dócil no trato, barroca no estilo e envolta em brocados, ostentando camafeus. Minas é saborosamente mágica. Mineiro sai de Minas, mas Minas não sai da gente. Fica uma dor forte,funda, farta e fértil, tão imponderável como o amor místico, onde o coração lateja embevecido por inefável paixão.

Ave, Minas! Batizada Gerais, és uma terra muito singular.


Frei Betto é mineiro e escritor.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Confissões de uma filha idosa sobre uma mãe adolescente


"Antes de começar a falar das mães, vou fazer uma prévia da minha triste história de vida. Atualmente sou o ser mais velho e maduro da família. Tenho um irmão mais velho, que sou eu quem cuida. O pai dele e minha mãe se separaram quando ele tinha um ano. Meu pai, bem mais velho que minha mãe, nos criou. Um pouco conservador e bem a frente do seu tempo, faleceu quando a gente tinha entre os vinte anos. Minha mãe, o amor da minha vida, é uma flor de pessoa. Baby-boomer e ex-hippie, é adepta à filosofia de vida: Ser feliz e aproveitar cada momento! E quem cuida dos negócios? Da crise? Das minhas crises? Das crises do meu irmão? Até o meu analista me abandonou alegando “incapacidade de reversão do quadro de histeria crônica”.


Não, não vou fazer disso um grupo de análise para cuidarem de mim, voltemos às mães:


Algumas mães se casam, não é? Por quê? Céus, por quê? Infelizmente, essa é uma história baseada em fatos reais.


Existem três tipos de mães:


As solteiras - Essas não entram na nossa lista negra pelo simples fato de que sempre foram e sempre serão assim, então as filhas já nasceram acostumadas com isso.


As divorciadas, uma das piores raças – Casam-se no desespero sem muito escolher, diga-se de passagem. Eis que um belo dia o marido diz: Vou me mudar pra Pindamonhangaba. Você tem dez minutos para vir comigo. Claro que ela não vai e passa o resto da vida alugando o ouvido do rebento, sem querer falar mal ou influenciá-lo contra o pai, posto que ela nunca faria isso.


E as viúvas – Dessas me recuso a fazer piada, o marido simplesmente morreu.


E aí meus queridos, após a ocorrência de um dos dois casos anteriores a mãe DESPIROCA, com todo respeito às mães do meu Brasil. Vira enfim a pior e a mais preocupante de todas as espécies, a chamada MÃE ADOLESCENTE! É o fim da nossa paz. Enquanto elas estão na rua se esbaldando a gente não dorme mais de preocupação.


Aos 19 anos assisti à peça de um amigo do meu irmão, Minha Mãe é Uma Peça, inspirada na mãe e na avó do autor/ator. Era uma mãe linda de avental, chinelo com meia, bobs no cabelo e vassoura na mão. Será que ele achava a dele ruim?! Uns com tanto, outros com tão pouco!


E por falar em avó, tenho andado mesmo é com birra de vó combinada com terço, mas só combinada com terço. Minha cidade, no interior de Minas Gerais, tem 60.000 habitantes. É o tipo de lugar que durante a infância e a adolescência você é obrigada a rezar o terço. Obrigada por quem? Pela sua avó, obvio. Reza-se o terço na casa da sua bisavó, da sua tia avó, das amigas da sua avó, etc. E por incrível que pareça, passados alguns anos, sua mãe “enviúva” e a primeira coisa que a sua vó diz é:


- Que isso minha filha, sua mãe está muito nova pra se apegar com um terço!


Vale lembrar que essa é uma história baseada em fatos reais.


Não se esqueça também de rezar! Reze. Reze muito. Reze quantos terços forem precisos para que sua mãe não enviúve ou divorcie perto do carnaval!


Mais até que o primeiro beijo, essa é a experiência mais traumatizante que existe: ter uma mãe recém SOLTEIRA no carnaval. No carnaval do Rio de Janeiro então!


Primeira dica: guarde a com sete chaves em qualquer outro lugar do mundo.


Leopoldina está à disposição para quem precisar. Pelo menos a minha mãe foi bacana comigo. Optou por não sair para baladas, nights e afins pelos arredores, afinal, cidade pequena dá mesmo o que falar.


E como nem tudo são flores, já dá pra imaginar aonde ela resolveu bombar. Mariuzin, isso mesmo! Caí na besteira de perguntar:


- Mãe me diz, por favor, a verdade, você bebeu?


- Não lembro! – disse ela, muito franca.


- Bebeu então. E nem precisou beber muito, aposto! – silêncio.


Um belo dia, deitada no meu quarto refletindo sobre as lagartixas e a possibilidade da minha mãe arrumar mesmo um namorado (meus maiores medos na vida) ela entra:


- Minha filha, posso te perguntar uma coisa?


Certa de que não ia perguntar como nascem os bebês, respondi:


- Claro.


Ela então, começou:


- Eu tava na estrada – Rio X Leopoldina, serra de Teresópolis - e uma caminhonete dessas grandalhonas, que eu gosto, começou a me cortar e reduzir...


“Ai meu Deus foi assaltada!” – pensei.


Até que ela confessou ter resolvido emparelhar para ver o que era. Que pessoa em sã consciência faria isso?! E como se não bastasse, continuou:


- Quando fiquei do lado da caminhonete, o homem abriu o vidro e fez assim pra mim. – Reproduzindo o gesto do Chico Anísio como professor Raimundo e seu salário.


- O que você fez mãe?


- Eu acelerei claro, fiquei com medo!


- Mãe, por favor, não diz que você ficou medo de ele estar te mostrando um tamanho!


Possessa, saiu do quarto.


Meses depois, Deus é Pai não é padrasto, com toda força da expressão, ela começou a namorar. Um moço bom, educado, distinto, de boa família, com só um defeito: ele era o namorado da minha mãe!


Muito trabalhador por sinal, concursado. Não preciso falar que bastaram dois meses de namoro para minha mãe mandar até o MEU namorado, que nem tinha aparecido na história fazer concurso.


No começo elas são respeitadoras por demais, namoram escondido! Quanta maturidade! Seria inevitável, mas um dia ela iria dormir na casa do seu namorado e ai, como diz um sábio primo meu, o jeito é rezar para ela sonhar a noite toda com o papai.


Após meses de namorinho de portão, é chegado o grande dia. Não dá mais pra fugir. Ela arma uma emboscada e você faz o que nunca devia ter feito na sua vida: conhece o indivíduo. É aí que você começa a odiá-lo mais ainda, afinal ele é gente boa demais, e de indivíduo vira pessoa, ‘coliega’, ‘parcero’.


Até que um dia acontece. A minha primeira vez foi em uma viagem com minhas duas irmãs, filhas do meu pai, mais velhas, casadas, mães, maduras, que tiveram um pai solteiro e não uma mãe.


Flash back_ Loja de um monte de coisas em Paris:

Eu: Calma aí gente eu tenho que ver o preço desse relógio que o meu PADRASTO pediu!


PAUSA MUITO DRAMÁTICA


As duas olharam para mim com cara de v-o-c-ê t-á l-o-u-c-a?! Eu me olhei internamente com cara de me internem! Maldita língua grande, boca maligna, cérebro cabeçudo e coração mole, molenga que sai acolhendo o arquiinimigo assim!


As duas juntas: Já virou padrasto? Só vira depois que casa!


A mais nova: Eu nunca chamei sua mãe assim.


Tentei consertar com a célebre resposta - é porque minha mãe não é nenhuma bruxa feia nariguda e com verruga! – e é claro que elas não engoliram.


Desde então, minha mãe. Se vocês a virem, mandem um beijo. Diz que mandei, porque quando eu encontrar com ela cara a cara, vou olhar dentro dos olhos dela e falar:


- Quer virar livro ou peça de teatro?






Beijo me liga!"

Sthael e Stephano Matolla.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Um súdito da Rainha


Inexplicável, a palavra era essa.
Um sentimento desconhecido tomava conta de todos os pensamentos. Era o vazio. Talvez por estar certo de que tudo era óbvio demais ou por, simplesmente, subestimar a condição humana. Coitado. O Google não era o suficiente para a insaciável busca do verdadeiro sentido da sua existência. Resolveu então recorrer às origens. Projetava o café da manhã servido pela Rainha dos BaiXinhos na sua própria cozinha se enchendo de energia para o pogo-ball na varanda. Não pensava muito, era feliz. Sorte, naquele tempo, era acordar mais cedo para assistir o Gato Félix e o Pequeno Príncipe. A tentativa em ser um bom menino era árdua, mas o saudoso Carequinha dava as dicas. Tinha a proteção do Papai do Céu. Rezava pra Ele à noite e não questionava Sua existência. Rezou para zerar o Alex Kid do Máster que ganhou do Papai Noel e zerou. Rezou para a vovó sarar e ela sarou. Era convicto. Na puberdade, rezar para não ficar de recuperação não surtia efeito. Por outro lado, conseguia se conectar na nonagésima oitava tentativa rezando. As madrugadas no ICQ eram imperdíveis. Rezava para não perder a hora do colégio e perdia. Conheceu o Pato Fu e Allan Kardec. Passou a visitar o plano espiritual através dos sonhos. Era, mais uma vez, convicto. A Viagem acabou. Seu encanto também. Não queria ser um ponto brilhante no infinito como o Otávio Jordão e a Diná. Tentou ver Nossa Senhora no céu com uma radiografia e não conseguiu. Sempre se perguntou porque todo mundo via, menos ele. Criou uma conta no Yahoo, e tem até hoje. Achava que iria mudar o mundo com suas idéias estapafúrdias. Conheceu a morte de perto e passou a achar certas manifestações religiosas uma grande bobagem. Começou a dar mais importância à matéria e caiu numa rotina um tanto quanto entediante. Achou o diário do Einstein perdido numa gaveta essa semana. Imagina também ter achado umas respostas para alguns de seus conflitos. Pobrezinho. Tem se esforçado para entender o mundo e o homem. Acredita, sim, nas intenções. Tem estado convicto. Defende o meio-ambiente e gosta de matemática. Talvez consulte uma numeróloga. Passou a observar o poder das palavras e a lei do retorno. Impressiona-se a cada dia. Tem pensado no futuro. Acha sua geração acomodada. Quer mudar o mundo, mas é muito acomodado. Ser acomodado o incomoda e três elefantes incomodam, incomodam e incomodam muito mais. O verão de 2010 o amedronta. Finalmente aprendeu a twittar e se tornou um Mafioso sedento por pacotes de energia. Tem sido de frases curtas. É adepto à praticidade e tenta trazê-la cada vez mais para o seu universo. Talvez seja agnóstico. Usa e abusa da vulgarização da palavra ‘dignidade’ e todas as suas derivações. Tem tentado aprender a escrever. Pratica muito pouco. A cada dia que passa se apega mais à família. Descobriu ainda ter o antigo carisma com as crianças, especialmente os bebês, e fica muito feliz por isso. Por ora, optou pela visão positiva de encarar a vida e, assim como Albert Einstein, acredita que o verdadeiro significado da vida é ser feliz.

Stephano Matolla.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Os Anos Dez

Rio de Janeiro, 04 de Junho de 2059


                    O sol acabara de apontar nessa quarta-feira saudosista. O sono pesado dos vinte e cinco ficou na memória. É estranho ninguém ter descoberto uma fórmula para eliminar a vista cansada. O banho de sol das folhas verdes visto pela janela traz uma recordação gostosa de Laranjeiras. As primeiras descobertas, as primeiras quedas e as primeiras vitórias fazem parte desta década tão marcante. O funcionalismo público era entediante! Meu Deus, como era possível trabalhar com contabilidade aos vinte e seis anos? Minha primeira campanha publicitária era veiculada no antigo O GLOBO. Assinava a minha primeira direção em um espetáculo de repercussão surpreendente. O primeiro contato com a morte também veio nesse tempo. O fim de alguém próximo era raro e assustador! De olhos fechados, tenho a imagem na minha mãe. A saudade é tanta. Os problemas tomavam uma dimensão muito maior do que na verdade eram. Discussões sem pé nem cabeça. Seria capaz de dar o mundo por uma tarde contando a ela tudo de bom que a vida trouxe nos últimos anos. Nossos religiosos cafés dos sábados no Leblon eram marcantes nos anos quarenta. Lembrávamos do começo do milênio, dos pensamentos insanos daquela década. Deus, quanta ingenuidade! As idas e vindas para Leopoldina aos finais de semana, o almoço de domingo na casa da Mãe Léa, com a macarronada e o pernil da Ana, que não como à cerca de trinta anos, que cheiro! O hoje ícone brasileiro da engenharia João Pedro Matolla Brettas, naqueles tempos, gritava ordenando ao Tio Rogério a abaixar o som, enquanto o compositor João Marcelo pedia o contrário. A dermatologista renomada Raíssa Matolla ingressava na faculdade ao passo que a minha irmã dava início a sua carreira administrativa. Minha irmã! O que seria da minha vida sem ela? Desde que nascemos a nossa cumplicidade profissional já era presente. Ela sempre soube administrar com firmeza as minhas criações. E sem ela, acho que seria impossível ter construído um patrimônio. Meus padrinhos me presenteavam com o batismo da internacional Nicolle Matolla, naquele tempo minha Nicollina. Como eu sinto falta do cafezinho na cozinha onde a Mãe Léa, com sua sábia experiência, tentava inúmeras vezes me fazer entender o porquê de cada por que! Nessa década, vivi meus tios. Aprendi a amá-los. As madrugadas insanas com a Tia Silmara eram curtidas até a última ponta enquanto o Tio Rogério me ensinava a gostar de música. As viagens para Resende eram o máximo! Ria, chorava, aprendia e ouvia muito minha Madrinha Poetiza e meu Padrinho Woorkaholic. Aprendi a dirigir. Digo, comecei a tentar aprender. Como eu era barbeiro! Os gritos de pavor da minha mãe eram hilários. Já não dirijo há uns cinco anos, não sinto a mínima falta. A ausência do meu pai era incômoda. Lamento ter vivido meu pai apenas ao fim. A Mãe Léa tinha razão! O biscoito frito e o bolo da Tia Wilma eram especiarias, posto que a Tia Wilma é eterna. O Ronaldo me acordando após uma bebedeira pra pegar o ônibus pro Rio, enquanto minha mãe só sabia que eu tinha viajado depois do sono, praxe. Amigos. Tantos especiais passaram nesses anos. Alguns, estreitando parcerias profissionais firmadas até hoje. Os sustos que o Brandão levava com a minha inconseqüência eram constantes. Pobre Brandão! Como era fácil culpar minha mãe pela minha incompetência. Só depois dos quarenta entendi que nós somos os únicos responsáveis pelo que recebemos da vida. O Marcos foi meu primeiro patrão. Ensinou o verdadeiro significado de responsabilidade. Sou muito grato a ele. Lula, o Lula! Uma decepção aos contestadores esquerdistas. A Rede Globo era a quarta maior emissora do mundo, enquanto a Record tinha uma qualidade de imagem péssima. Quem diria! Hoje, aos setenta e seis vejo com emoção tudo àquilo que passou. Os cabelos brancos me denunciam. Tinha medo de não tê-los. A coluna dói. A fisioterapeuta chegou, minha sobrinha neta predileta! Vai começar a sessão. Fico por aqui, com carinhos saudosos...

Stephano Matolla.

04/06/2009


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Paradigma




[Do gr.parádeigma, pelo lat. Paradigma.]
S. m. 1. Modelo, padrão, estalão: “D. Luís de Menezes .... parece constituir o paradigma da síntese ideal ... entre a coragem militar e o academismo cultural.” (Antônio José Saraiva e Oscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, p.412.) 2. Gram. Modelo ou tipo de conjugação ou declinação gramatical.

Tenho tentado quebrar alguns. Tenho usado cores, trabalhado cores. Hoje pela manhã separei cinco camisetas pretas furadas de cigarro para doação. Os cérebros mais próximos não codificaram essa mudança. Marquei com um amigo no Choro da General Glicério no último sábado. Poderíamos ter nos encontrado se eu não estivesse de verde. Ontem usei amarelo, minha mãe passou cinco vezes por mim à minha procura. Tenho estranhado o meu reflexo. As vezes me pego sorrindo e dizendo bom dia pra mim. É estranho. Sou estranho. Percebi que minha mãe também tem quebrado alguns. Fomos convidados a degustar paellas na casa de uma amiga de infância, casada com espanhol. Comemos três variedades. Uma delas feita com macarrão fino ao invés de arroz. Minha mãe não come fio de anjo. Intoxicou-se em 1973. Conheci minha mãe sem comer fio de anjo. Tínhamos que dar nota aos pratos. Aprendi que ‘paedja’ só é dita por argentinos. Minha mãe gostou das ‘paelhas’, eu também. Tenho ido à praia. Tenho usado verdana 12. Acho limpo. Tenho ido ao leblon. Descobri que Monteiro Lobato e Miquèl de Nostradama são a mesma pessoa. Ainda vou quebrar outros. Pretendo falar menos e ouvir mais. Pretendo trabalhar minha ansiedade. Quero deixar que as pessoas completem sua linha de raciocínio sem intervir. Quero dar mais atenção ao meu blog. Preciso ter paciência para aprender a usá-lo. Quero viver mais meu pai. Pretendo aprender muito com ele. Quero praticar algum exercício físico. Minto. Quero querer praticar algum exercício físico. Pretendo diminuir a cerveja. Pretendo mentir menos. O sol ainda me irrita...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Empezando...

As pessoas que por aqui passam já ouviram o bordão em meio à generosas doses de caipirinha, eventos, sons estridentes, Laranjeiras, cerveja gelada, ensaios, vernissages, eventos, reuniões, funerais, rodas de samba, eventos.
O espaço traz a materialização que há tempos vem se tornado uma questão importantíssima nas pautas dos debates internacionais, das abordagens públicas e das análises freudianas.
Aqui, vamos compartilhar pensamentos insanos, pensamentos reais, pensamentos...
Entrem no meu blog, e boa viagem!
Stephano Matolla.